13 setembro 2007

Orfeu - 2



A Grécia pré-órfica - A Trácia - 2


A noroeste da Grécia existia a Trácia (actualmente dividida entre Grécia, Bulgária e Turquia desde 1919/1923), pais selvagem e rude de altas montanhas cobertas de carvalhos gigantes, varridas pelo vente do norte e frequentes trovoadas e chuvas torrenciais. Aí viviam os Dórios, raça guerreira (cujo modelo social foi mais tarde imitado por Esparta) de origem indo-europeia que acabaria por invadir toda a Grécia em 1200 a.C., substituindo nas cidades gregas a monarquia pela oligarquia e iniciando a época áurea da civilização dórica.

A Trácia foi sempre considerada pelos gregos como uma região santa, o país da luz espiritual e a verdadeira pátria das musas. Trácia, “Trakia”, tem origem etimológica na palavra fenícia “rakhiwa”, que significa espaço etéreo ou firmamento. No alto de suas montanhas existiam os mais velhos templos de Zeus, Crono, Urano. Aí tinham tido suas origens a poesia, as leis, as artes sacras, que a civilização ocidental deve à Grécia, pela mediação de Roma.

Segundo a antiga tradição trácia, a poesia foi inventada por Olen, palavra fenícia que significa o “ser universal”. Apolo tem a mesma raiz – Ap-Olen – e significa o “pai universal”. No inicio, a cidade de Delfos cultuava o ser universal sob o nome de Olen; o culto de Apolo veio depois, sob a influência da doutrina do verbo solar, vinda dos templos da Índia e do Egipto. Apolo, o pai universal, tinha dupla manifestação: a luz espiritual, hiperfísica, e a manifestação da estrela solar no céu. Porém, este culto era reservado aos iniciados, no templo de Delfos, e foi Orfeu que a desenvolveu nos mistérios dionisíacos e deu outra dimensão ao verbo solar de Apolo.

Para os maiores poetas, filósofos e grandes iniciados da Grécia, tais como Pindare, Ésquilo ou Platão, o nome da “Trácia” tinha uma forte simbólica e significava “o pais da doutrina pura e da poesia sagrada”, tendo um sentido filosófico e histórico: era uma região intelectual, o conjunto das doutrinas e das tradições segundo as quais o mundo é obra de uma inteligência divina; e também era a raça dórica, herdeira do antigo espírito ariano, a que a Grécia devia a doutrina e a poesia cultuadas no templo de Apolo em Delfos.

Os maiores poetas da época eram trácios: Thamyris, Linos ou Amphion inventaram a poesia cosmogónica, a poesia da doutrina solar (ou doutrina dórica mais ortodoxa e que influenciou as artes e toda a civilização helénica) e a poesia do culto lunar (mais emotiva, lacrimosa e voluptuosa). A poesia era então considerada a linguagem dos deuses, a consagrar uma teologia, cobrindo com o véu da alegoria os mistérios da natureza e os mais sublimes conceitos morais, só compreensíveis aos iniciados desses mistérios. Etimologicamente, “poesia” tem sua origem nas palavras fenícias “phohe” (voz) e “ish” (deus).

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