20 maio 2008

Mesas Girantes - 3


Outra finalidade do fenómeno inicial parece ter sido afastar a descrença baseada nas teorias "magnética" e do "meio ambiente" (ou "reflectiva") que Allan kardec, ainda na sua introdução (cap. XVI) ao LE, descreve em breves linhas.

A teoria magnetica ou dos efeitos magnéticos considera que todas as manifestações atribuídas aos Espíritos não seriam mais do que efeitos magnéticos. Os médiuns, não são médiuns, apenas se acham num estado a que se poderia chamar sonambulismo desperto e em que as faculdades intelectuais adquirem um desenvolvimento anormal; o círculo das operações intuitivas se amplia, para além das raias da nossa concepção ordinária, tirando o "médium" de si mesmo e por efeito da sua lucidez tudo o que diz e todas as noções que transmite, mesmo sobre os assuntos que mais estranhos lhe sejam, quando no estado habitual.

Ora, de início, o fenómeno das mesas girantes serviu para mostrar que havia uma causa inteligente exterior ao médium, o que seria menos óbvio no caso de se ter recorrido logo à psicografia por exemplo.

Ainda assim, Kardec tece considerações que, mesmo agora no caso da psicografia, refutem esta teoria como argumento em desfavor do espiritismo (mas porém pode explicar algumas excepções de falsa mediunidade). Uma observação cuidadosa e prolongada mostrará que a intervenção do médium é a de instrumento passivo:
- se a teoria espírita é um sistema imaginado por esses mediuns "somnâmbulos" porque a teriam eles atribuído aos Espíritos?
- a falta de unidade nas manifestações obtidas pelo mesmo médium prova a diversidade das fontes. Ora, desde que não as podemos encontrar todas nele, forçoso é que as procuremos fora dele.

A teoria do meio ambiente ou reflectiva também foi afastada pelo fenómeno das mesas girantes e batedoras, o que seria menos evidente no caso da psicografia. Com o fenómeno inicial, é óbvio que a vontade do médium não intervém, e só depois se soube que apenas eram instrumentos passivos, de cujo fluido os Espíritos se serviam para mover as mesas.

Aqui ainda, prevendo as futuras dúvidas no caso da psicografia nomeadamente, Allan Kardec tece argumentos sólidos e lógicos contra esta teoria que sustenta ser o "médium" apenas a única fonte produtora de todas as manifestações, mas, em vez de extraí-las de si mesmo (teoria magnética ou sonâmbula), ele as toma ao meio ambiente, agindo como uma espécie de espelho a reflectir todas as ideias, todos os pensamentos e todos os conhecimentos das pessoas que o cercam; nada diria que não fosse conhecido, pelo menos, de algumas destas.

Certas comunicações do médium são completamente estranhas aos pensamentos, aos conhecimentos, às opiniões mesmo de todos os assistentes; frequentemente espontâneas, contradizem todas as ideias preconcebidas.

E mesmo sustentando esta teoria que se dá uma irradiação que vai muito além do círculo imediato que envolve o médium, sendo este o reflexo de toda a Humanidade, de tal modo que se as inspirações não lhe vêm dos que se acham a seu lado, ele as vai beber fora, na cidade, no país, em todo o globo e até nas outras esferas, sempre se mostra que a ideia de que os espíritos, em contacto connosco, nos comunicam seus pensamentos, nada tem que choque mais a razão do que a suposição dessa irradiação universal, vindo, de todos os pontos do Universo, concentrar-se no cérebro de um indivíduo.

Estas teorias (sonâmbula e reflectiva) foram imaginadas por alguns homens; são opiniões individuais, criadas para explicar um facto, ao passo que a Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias Inteligências que se manifestaram, quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia.

Relata Kardec nesse capitulo XVI argumentos e factos que demonstram, na inteligência que se manifesta, uma individualidade evidente e uma absoluta independência de vontade.

Mas convém entender o porquê do fenómeno inicial e a sua subsequente substituição pelas formas mais comuns actualmente de mediunidade: as primeiras manifestações, na França, como na América, não se verificaram por meio da escrita nem da palavra, e, sim, por pancadas concordantes com as letras do alfabeto e formando palavras e frases. Foi por esse meio que as inteligências, autoras das manifestações, se declararam Espíritos. Ora, dado se pudesse supor a intervenção do pensamento dos médiuns nas comunicações verbais ou escritas, outro tanto não seria lícito fazer-se com relação às pancadas, cuja significação não podia ser conhecida de antemão.

Vale a pena ler:
"O Livro dos Espíritos",
Introdução de Allan Kardec,
Capítulos II a V, e IX.

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