31 maio 2008

Os Vedas - 1



Em "O Espiritismo ou Faquirismo Ocidental", Paul Gibier escreve que a idade dos Vedas ainda não pôde ser fixada, embora Souryo-Shiddanto, um astrônomo hindu cujas observações sobre a posição e percurso das estrelas remonta a cinquenta e oito mil anos, fale dos Vedas como obras já veneráveis pela sua antiguidade.

Os hinos védicos igualam em grandeza e elevação moral a tudo o que, no decorrer dos tempos, o sentimento poético engendrou de mais belo.

Celebram Agni, o fogo, símbolo do Eterno Masculino ou Espírito Criador; Sorna, o licor do sacrifício, símbolo do Eterno Feminino, Alma do Mundo, substância etérea. Em sua união perfeita, esses dois princípios essenciais do Universo constituem o Ser Supremo, Zians ou Deus. O Ser Supremo imola-se a si próprio e divide-se para produzir a vida universal. Assim, o mundo e os seres saídos de Deus voltam a Deus por uma evolução constante. Daí a teoria da queda e da reascensão das almas que se encontra no Oriente.

Ao sacrifício do fogo resume-se todo o culto védico. Ao levantar do dia, o chefe de família, pai e sacerdote ao mesmo tempo, acendia a chama sagrada no altar da Terra e, assim, para o céu azul, subia alegre a prece, a invocação de todos à Força única e viva, que está coberta pelo véu transparente da Natureza. Enquanto se cumpre o sacrifício, dizem os Vedas, os Assuras ou Espíritos superiores e os Pitris ou almas dos antepassados cercam os assistentes e se associam às suas preces. Portanto, a crença nos Espíritos remonta às primeiras idades do mundo.

Os Vedas afirmam a imortalidade da alma e a reencarnação:
“Há uma parte imortal do homem que é aquela, o Agni, que cumpre aquecer com teus raios, inflamar com teus fogos. – De onde nasceu a alma? Umas vêm para nós e daqui partem, outras partem e tornam a voltar.”

Os Vedas são monoteístas; as alegorias que se encontram em cada página apenas dissimulam a imagem da grande Causa primária, cujo nome, cercado de santo respeito, não podia, sob pena de morte, ser pronunciado. As divindades secundárias ou devas personificam os auxiliares inferiores do Ser Supremo, as forças vivas da Natureza e as qualidades morais.

Do ensino dos Vedas decorria toda a organização da sociedade primitiva, o respeito à mulher, o culto dos antepassados, o poder eletivo e patriarcal. Os homens viviam felizes, livres e em paz.

Durante a época védica, na vasta solidão dos bosques, nas margens dos rios e lagos, anacoretas ou rishis passavam os dias no retiro. Intérpretes da ciência oculta, da doutrina secreta dos Vedas, eles possuíam já esses misteriosos poderes, transmitidos de século em século, de que gozam ainda os faquires e os jogues. Dessa confraria de solitários saiu o pensamento inovador, o primeiro impulso que fez do Bramanismo a mais colossal das teocracias.

Krishna, educado pelos ascetas no seio das florestas de cedros que coroam os píncaros nevoentos do Himalaia, foi o inspirador das crenças dos hindus. Essa grande figura aparece na História como o primeiro dos reformadores religiosos, dos missionários divinos. Renovou as doutrinas védicas, apoiando-se sobre as idéias da Trindade, da imortalidade da alma e de seus renascimentos sucessivos. Selada a obra com o seu próprio sangue, deixou a Terra, legando à Índia essa concepção do Universo e da Vida, esse ideal superior em que ela tem vivido durante milhares de anos.

Sob nomes diversos, pelo mundo espalhou-se essa doutrina com todas as migrações de homens, de que foi origem a região da Índia. Essa terra sagrada não é somente a mãe dos povos e das civilizações, é também o foco das maiores inspirações religiosas.

(Léon Denis - Depois da Morte)

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