31 maio 2008

Os Vedas - 2



A princípio, a organização social da Índia foi calcada pelos brâmanes sobre suas concepções religiosas. Dividiram a sociedade em três classes, segundo o sistema ternário; mas, pouco a pouco, tal organização degenerou em privilégios sacerdotais e aristocráticos. A hereditariedade impôs os seus limites estreitos e rígidos às aspirações de todos. A mulher, livre e honrada nos tempos védicos, tornou-se escrava, e dos filhos só soube fazer escravos, igualmente. A sociedade condensou-se num molde implacável, a decadência da Índia foi a sua conseqüência inevitável. Petrificado em suas castas e seus dogmas, esse país teve um sono letárgico, imagem da morte, que nem mesmo foi perturbado pelo tumulto das invasões estrangeiras! Acordará ainda? Só o futuro poderá dizê-lo.

Os brâmanes, depois de terem estabelecido a ordem e constituído a sociedade, perderam a Índia por excesso de compressão. Assim também, despiram toda a autoridade moral da doutrina de Krishna, envolvendo-a em formas grosseiras e materiais.

Se considerarmos o Bramanismo somente pelo lado exterior e vulgar, por suas prescrições pueris, cerimonial pomposo, ritos complicados, tábulas e imagens de que é tão pródigo, seremos levados a nele não ver mais que um acervo de superstições. Seria, porém, erro julgá-lo unicamente pelas suas aparências exteriores.

No Bramanismo, como em todas as religiões antigas, cumpre distinguir duas coisas:
- Uma é o culto e o ensino vulgar, repletos de ficções que cativam o povo, auxiliando a conduzi-lo pelas vias da submissão. A esta ordem de idéias liga-se o dogma da metempsicose ou renascimento das almas culpadas em corpos de animais, insetos ou plantas, espantalho destinado a atemorizar os fracos, sistema hábil imitado pelo Catolicismo quando concebeu os mitos de Satanás, do inferno e dos suplícios eternos;
- A outra é o ensino secreto, a grande tradição esotérica que fornece sobre a alma e seus destinos, e sobre a causa universal, as mais puras e elevadas reflexões. Para conseguir isso, é necessário penetrar-se nos mistérios dos pagodes, folhear os manuscritos que estes encerram e interrogar os brâmanes sábios.


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Cerca de seiscentos anos antes da era Cristã, um filho de rei, Çãkyamuni ou o Buddha, foi acometido de profunda tristeza e imensa piedade pelos sofrimentos dos homens. A corrupção invadira a Índia, logo depois de alteradas as tradições religiosas, e, em seguida, vieram os abusos da teocracia ávida do poder. Renunciando às grandezas, à vida faustosa, o Buddha deixa o seu palácio e embrenha-se na floresta silenciosa. Após longos anos de meditação, reaparece para levar ao mundo asiático senão uma crença nova, ao menos uma outra expressão da Lei.


(Léon Denis - Depois da Morte)

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